( desaconselhável
a quem não gosta de ler e proibido a quem não gosta de pensar )
1 –
PREÂMBULO
Um
posicionamento político partidário prévio faz-se necessário, para que o que
penso não seja lançado à conta de defensor desta ou daquela posição partidária,
como defesa deste ou daquele partido.
Não sou
petista, nunca fui petista, e não me sinto representado por nenhum dos partidos
que compõe a base de governo, em coligações e alianças com o PT, o que me deixa
muito a vontade para me posicionar.
2 – UM SÓ MODELO
Após a
queda do Muro de Berlin e a fragmentação da União Soviética, com a adoção do
sistema capitalista, não só pela Rússia, mas por todos os países do Leste
Europeu, o mundo passou a ter modelo único de sistema econômico, o capitalismo.
Hegemônico,
totalitário, esse sistema eliminou possíveis dissidências ou possibilidades de
modelos alternativos, agindo economicamente, através dos seus próprios mecanismos:
embargos, sobretaxações e boicotes, ou pela força das armas.
3 – CUBA E CORÉIA
Pela
inexpressividade bélica, econômica e populacional, nenhum desses dois países
pode e deve ser citado como modelo ou aliado em potencial, numa revolução, uma
vez que mostram anomalias econômicas, por inadaptação ao mercado internacional
e impossibilidade de sobrevivência sem a ajuda externa.
Cuba
cometeu o erro da monocultura (canavieira) e da centralização de exportações
para mercado único, no caso, o russo, perdendo a oportunidade de
industrialização e diversificação de mercados.
Para
agravar, um cruel, covarde e desumano boicote econômico, liderado pelos EEUU,
acatado e posto em prática também pelos países da União Europeia, em verdadeira
tentativa de genocídio, impediu qualquer alternativa aos cubanos, já que a
Rússia, em dificuldades econômicas, reduziu em muito a ajuda a esse povo.
A Coréia
do Norte é hoje uma cruel e desumana ditadura de esquerda, com um poder
dinástico, passando de pai para filho, sem condições sequer de alimentar o seu
povo.
4 – CHINA
A
esperança de alternativa, para os que ideologicamente convergem para a
esquerda, mostra-se cada vez mais próxima do capitalismo, que só não acontece
mais aceleradamente por causa do conservadorismo do campesinato.
Mas na
medida em que continuar aumentando a urbanização, exigência do próprio modelo
capitalista, de concentrar a produção e o consumo, e a mecanização do campo, o
Partido Comunista Chinês não terá mais como segurar a pressão.
A China é
hoje um modelo híbrido, politicamente centralizado, mas economicamente cada vez
mais liberalizado.
5 – ISLÃ
Difícil
uma análise crítica dos povos do Oriente Médio, já que rejeitam Smith e Marx,
buscando um modelo alternativo, apoiado em textos religiosos.
Não há
sequer como discutir a viabilidade disso, uma vez que a vigilância e a
repressão capitalista, via forças armadas dos EEUU e de seu satélite, Israel,
frustram, pela força bruta, qualquer tentativa nesse sentido.
6 – O CAPITALISMO ATUAL
Hegemônico,
totalitário, avassalador, com pequenas variantes de modelos de produção e distribuição,
podemos afirmar que todo o planeta, hoje, adotou e está subjugado a esse
sistema de produção e consumo, capitaneado pelos Estados Unidos, potência
imperial,
quer pelo poder econômico, quer por suas consequências culturais (do
modelo econômico): política, filosofia, arte e religião.
7 – BRASIL
País de
hábitos extremamente conservadores, primeiro por causa da enorme influência do
catolicismo, herança portuguesa, e agora pelo protestantismo, influência
anglo-saxônica, onde incluo os Estados Unidos, por causa da sua colonização, ainda
mais conservador, o Brasil começou a se mostrar optante por um modelo em meados
da primeira metade do século anterior, com Getúlio Vargas, que buscou a
economia de mercado, com industrialização e um Estado forte, mais que
regulador, proprietário.
Com o
suicídio de Vargas, abriu-se um vazio de poder imenso, o que não é de se
estranhar, uma vez que a característica dos povos conservadores é o apoio
incontinente a Messias e Salvadores da Pátria.
Veio uma
década de prosperidade econômica e arejamento de ideias, com o governo
Juscelino, quase que antecipando historicamente a posição social democrata, com
crescente tendência de opção pela via socialista, não só do Brasil como de toda
a América Latina, no dizer dos americanos do norte, quintal dos Estados Unidos.
Veio o
golpe.
8 – A DITADURA MILITAR
Antes de
comentar o aspecto econômico, é preciso desmistificar o conceito de revolução,
aplicado não só no Brasil como em todos os países da América Latina.
Revoluções
são movimentos de mudança do modelo social e econômico.
Quando a
Rússia mudou o regime de feudal semicapitalista para socialista, fez uma
revolução. Quando Cuba mudou o modelo de incipiente capitalismo de colônia pelo
socialismo, fez uma revolução. Quando os povos do Oriente Médio tentam fugir do
capitalismo e do colonialismo para implantar Repúblicas Teocráticas (Islâmicas)
estão tentando revoluções.
No Brasil,
como de resto em toda a A. L., havia revoluções em curso, pelo menos no âmbito
político e econômico, e os movimentos militares vieram para sufocar, impedindo
essas revoluções, o que os caracteriza como contra revolucionários, antirrevolucionários,
para a manutenção do antigo, conservadores, portanto.
O que
houve foi golpe de estado, com oficiais superiores treinados e financiados
pelos Estados Unidos, lá, traindo o Presidente da República, seu comandante em
chefe, para atendimento dos reclamos e interesses dos Estados Unidos (são
abundantes os documentos, da época, mostrando isso, não é opinião minha, tanto
que a frota norte-americana estava fundeada nas imediações da Baia de Guanabara,
para intervir, caso o povo brasileiro reagisse. É preciso resgatar a verdade,
nossos heróis são de papel).
Consolidado
o Golpe Militar, nos atrelamos imediatamente à Matriz, e são abundantes as
citações de políticos civis e militares, da época, nesse sentido: “o que é bom
para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, por exemplo.
A economia
caracterizou-se por forte crescimento agrícola, com a implantação de culturas
complementares às dos Estados Unidos e dos países da Europa (ainda não havia a
União Europeia), aproveitando o nosso clima, tropical, e a oposição de estações
do ano, o que evita escassez de entressafras, pelo comércio internacional.
Começou aí
a transformação do país em grande latifúndio produtor de cana, para alimentar
automóveis, e soja, para alimentar suínos e galinhas, na América do Norte e na
Europa.
A
industrialização perdeu o ritmo, já que nos apoiamos no consumo do supérfluo
produzido lá, restando-nos o papel de fornecedores de mão de obra barata e
capital (nos endividamos até a medula com os organismos internacionais, pagando
os maiores juros do planeta, a ponto de haver uma excrescência chamada “over
night”, uma operação que pagava juros bancários por hora. O gringo vinha aqui,
depositava o dinheiro às sete horas da noite e, no dia seguinte, às sete horas
da manhã, sacava as doze horas de juros).
9 – O FIM DA DITADURA
Percebendo
já uma crescente liberalização econômica e social no mundo, a começar pela
Europa, com o fim do Franquismo e do Salazarismo, por exemplo, e o início da
fragmentação do Império Russo, os Estados Unidos tiveram que se adequar, e a
manutenção de tiranias, como estavam postas em toda a América Latina, em praticamente
toda a África e parte da Ásia, perderam o apoio político, econômico e militar
norte americanos, e o generais, sem alternativas, tornaram-se “democratas”, abrindo
mão do poder.
10 – GOVERNO SARNEY
Com o fim
da ditadura militar, apareceu Tancredo Neves que, embora muito conservador,
político do interior, ligado aos latifúndios, extremamente católico, por ter
tido ligações com Getúlio Vargas e João Goulart (foi ministro nos dois
governos), se não era uma alternativa de esquerda, o era como a volta do
patriotismo, da emancipação à dependência aos “irmãos do norte”, como os
militares se referiam aos norte-americanos.
Morto
Tancredo, assumiu Sarney, que fora presidente do partido de sustentação
política dos militares, criado artificialmente, a ARENA, e governador biônico
do Maranhão (colocado no cargo por nomeação, sem eleições), acontecendo o que
não poderia ser diferente: um generalzão paisano na presidência, embora tenha
suportado forte oposição, democraticamente, sem recorrer à repressão.
Sem o
apoio e a orientação dos Estados Unidos, veio o caos: filas para tudo, inflação
estratosférica, falta de gêneros, tabelamentos, racionamentos, planos econômicos
bombásticos, um atrás do outro, infrutíferos... Só mostrando que sem a
administração norte-americana aquele modelo não andaria.
11 – FIM DO MODELO
Esgotado o
modelo ditatorial militar de atrelamento cego à matriz, e sem alternativas à
esquerda, só restou o capitalismo, dividido em duas vertentes:
1)
Social democracia – busca um estado forte,
centralizador, com participação direta nos meios de produção e enfoque
principal na justiça social, através de cotas em escolas, distribuição de
alimentos, redistribuição de renda e terra e fortalecimento do mercado interno,
sem perder de vista que o fim é a produção de capital, o capitalismo;
2)
Neoliberalismo – busca o chamado estado mínimo,
deixando para a iniciativa privada toda a produção, inclusive de serviços, como
saúde e educação, entendendo que o próprio mercado produz as suas leis e as
regulariza, de acordo com as próprias necessidades. A assistência estatal é
substituída pela competição de mercado, em tese, propiciador de chances iguais
para todos. É o capitalismo radical, levado às últimas consequências.
12 – GOVERNO COLLOR
Livre do
engessamento econômico imposto pelos militares e continuado por um militar sem
farda (Sarney), as forças conservadoras, capitaneadas pela maior rede de
televisão do país “fabricaram” um messias salvador da pátria, para implantar o
neoliberalismo da forma mais radical, e alçaram Collor do anonimato, fazendo-o
presidente da república.
Inexperiente
e deslumbrado com o poder, o moço cometeu um erro primário: mexeu no sagrado
dinheirinho da classe dominante.
Acreditando
que o fim da inflação viria com a redução drástica do meio circulante (grana
girando no mercado), promoveu o que ficou conhecido como “confisco da
poupança”, e começou a cair logo no primeiro dia de governo.
As
próprias forças que o criaram, a começar pela Globo, o destronaram.
Convém
salientar que as acusações que pesaram sobre ele, em periculosidade e volume de
dinheiro, é coisa de aprendiz de batedor de carteiras, diante do que veio
depois, com a institucionalização da roubalheira em todo o espectro político, a
começar pelas privatizações de FHC, cuja grana sumiu.
13 – GOVERNO ITAMAR FRANCO
Intervalo
neoliberal, com tentativa de nos definirmos pelo modelo social democrata.
Criou o
Plano Real, de Rúben Ricúpero, atribuindo-o a Fernando Henrique Cardoso, na
esperança de que, eleito, continuasse com o modelo social democrata.
13 – GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Esperança
de social democracia, pelo discurso de campanha, por ser continuidade de Itamar
(seria. Depois o próprio Itamar o desqualificou, chamando-o de traidor) e
principalmente por causa da nomenclatura da sua sigla partidária.
Mostrou-se
um neoliberal radical, privatizando todo o meio produtivo estatal, a preço vil,
no mercado internacional, encerrando pesquisas nas universidades e empresas
brasileiras subsidiadas, abrindo mão da formação de tecnologia nacional,
terceirizando ou entregando à iniciativa privada a saúde e a educação,
transferindo orçamento contingenciado das ações sociais para o meio financeiro.
Em seu
governo registraram-se os maiores juros reais da história e um dos menores
valores do salário mínimo, em dólares.
A produção
brasileira, ao invés de ser controlada, passou a ser fiscalizada a distância
(?), pela criação de agências reguladoras.
14 – GOVERNO LULA
Caracterizou-se
como um governo tipicamente social democrata: deu aumentos reais no salário
mínimo (100 dólares, na sua posse, 350 dólares, hoje), acelerou a reforma
agrária (não no ritmo e da forma esperados), distribuiu bolsas alimentação,
criou cotas para negros, índios e alunos oriundos de escolas públicas nas
universidades, criou mecanismos de financiamento para estudantes e subsidiou a
construção civil, com projetos de construções populares, fortaleceu o mercado
interno, diversificou o mercado externo, mas sem, em nenhum momento, perder de
vista o capital, o que o descaracteriza completamente como socialista.
15 – GOVERNO DILMA
Continuação
do governo Lula, segundo os mesmos princípios e iniciativas.
16 – ALTERNATIVAS HOJE
De
imediato devem ser afastadas quaisquer possibilidades de saídas extremas, seja
à esquerda ou à direita.
Não há
favorecimento nas conjunturas interna e externa.
Vejamos:
a)
Para uma saída pela extrema esquerda – em termos
internacionais não há um único país capaz de se alinhar com o Brasil, para
troca de experiências táticas e estratégicas, e alianças econômicas, além do
capitalismo ser hegemônico, capaz de impedir qualquer movimento nesse sentido,
seja valendo-se da diplomacia e da chantagem econômica, como das armas. Em
termos internos, não temos uma esquerda forte, organizada, com direção centralizada,
mas toda pulverizada em diversos partidos pequenos, todos lentamente
assimilando a social democracia;
b) Para
uma saída pela extrema direita – em termos internacionais todas as tentativas
nesse sentido foram fracassadas porque não contaram com o apoio das grandes
potências. Pelo contrário, tiveram forte oposição.
E
porque isso? As ditaduras militares tendem a ser centralizadoras, administrando
com mãos de ferro, o que é incompatível com o neoliberalismo e a social
democracia, que exigem governos desorganizados e politicamente fracos, para a
independência do capital, para que ele siga a sua própria lógica.
Repare
que nesses sistemas, como é impossível um planejamento de médio e longo prazos,
porque quem vai determinar a realidade não serão as forças produtivas, mas o
sistema financeiro, os governos transformam-se em gerenciadores de crises.
Por
incompatíveis, bem estar social, democracia plena e realização completa do
capital, os governos se vêm no papel de mediadores de conflitos, ora em
benefício do capital, ora do trabalho e dos trabalhadores.
17 – OS DISCURSOS DOS DOIDOS
a) PSDB
e FHC são fascistas – não, não são. Não se tem, quer de maneira oficial, nos
estatutos do partido, ou oficiosa, através de pronunciamentos dos seus
próceres, nada que aponte para isso. Apesar do termo Social Democracia na sigla
do partido, pelos dois mandatos presidenciais de um dos seus fundadores(FHC) e, ainda hoje, a figura mais
influente entre os tucanos (o símbolo do partido é um tucano), das iniciativas
administrativas tomadas por governadores e prefeitos desse partido, e dos discursos
parlamentares tucanos, o partido é neoliberal, com todas as características
intrínsecas às intenções e atos do neoliberalismo;
b)
PT e Lula são comunistas – não, não são. E aqui
a acusação é risível, tamanha a falta de fundamentação. Para quem tenha, seja
por simpatia ou militância, ou por dever de ofício (universitários das áreas de
Ciências Sociais, por exemplo), conhecimento do que são a filosofia e a
economia marxistas, a associação do PT e Lula ao marxismo é como a associação
de protestantes e adoração de imagens, incompatíveis e inconcebíveis.
É comunista, ou pelo menos tem a
pretensão de ser, um governo que:
b.1) libera de tributação o sistema financeiro
(bancos e congêneres) brasileiro, o de maior rentabilidade e lucros, no
planeta?
b.2) promove uma
reforma agrária lenta e só a partir de terras da União ou, quando a partir de
fazendas invadidas pelo MST, por improdutivas, pagando indenização no valor de mercado, como se fossem
produtivas? (quando são produtivas a justiça as devolvem aos donos, não raro
usando a força policial)
b.3) que permite assassinatos
em série de lideranças campesinas e índios, promovidas por latifundiários, sem
tomar nenhuma iniciativa para coibir?
b.4) que “planta”
hidrelétricas, a custa do extermínio de milhares de espécies animais e
vegetais, e da cultura de povos milenares (índios)?
b.5) que tem nos
Estados Unidos, e pelos Estados Unidos, um parceiro estratégico e alinhado?
b.6) que tendo os seus
produtos e serviços boicotados no mercado internacional, via sobretaxação ou
por concessão de subsídios às produções locais, não realiza nenhuma retaliação,
seja no mercado interno ou externo?
b.7) que não realiza
quaisquer perseguições ou pelo menos críticas a religiões, inclusive tendo
dezenas de lideranças religiosas não só em alianças e coligações, como em seus
próprios quadros?
Mas olhemos por outro lado, agora de
fora para dentro:
b.8) se houvesse
qualquer indício de dissidência do capitalismo, no PT, Barak Obama seria tão
amistoso com o governo brasileiro? Ou daria o tratamento dado a Chávez e,
agora, a Evo Morales?
b.9) considerando a
importância econômica do Brasil (6ª potência econômica do planeta. Quando FHC
entregou a Lula, era a 16ª) e o terceiro produtor mundial de alimentos,
portanto de alta estratégia para o capitalismo internacional, se estivéssemos
tomando rumos à esquerda, os Estados Unidos e a União Europeia estariam tão
amistosos conosco?
O PT é, hoje, resultado da prevalência
de uma força política interna (do PT), a Articulação, à qual Lula sempre
pertenceu, desde a sua origem, no sindicalismo de resultados (portanto não
revolucionário, mas social democrata), e que expurgou todos os socialistas e
comunistas do partido, que criaram outros partidos (o PSTU, por exemplo).
Quem chama Lula e o PT de comunistas
age de absoluta má fé, acreditando que o povo é idiota, ou é absolutamente
burro, palrando o que ouviu, sem saber o que nem porque.
O marxismo é uma doutrina fechada, que
abrange economia e filosofia, dialeticamente, de alta complexidade teórica, e
não se aprende em postagens na net nem em passeatas.
Comunismo, no Brasil, virou sinônimo de
não gosto: pedófilo é comunista; o religioso de denominação diferente da nossa
é comunista; dar cestas básicas é coisa
de comunista (Barak Obama que o diga, já que ele - governo dos Estados Unidos,
dá 48 milhões de cestas básicas, mensalmente, aos miseráveis do paraíso do
capital); ser contra quebra da ordem democrática, com imposição da força das
armas é ser comunista; ser contra a continuidade de mortes de miseráveis nos
rincões do país, porque as faculdades de medicina têm mensalidades de 5 a 10
salários mínimos, só ao alcance dos filhos da classe dominante, que, formados,
não querem ir para o interior, e a favor de se importar médicos é coisa de
comunista...
E são os comunistas que usam os não
esclarecidos, eufemismo para desinformados.
18 – PORQUE ESSA SITUAÇÃO DE TIROTEIO NO ESCURO? – Anote esses nomes:
Gilberto Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer, Burle Marx,
Glauber Rocha, Vinícius de Moraes... (e eu poderia citar 500 nomes outros, de
mesmo quilate). Eram esses homens que conduziam a política da educação, da arte
e da cultura brasileiras, e veio o golpe militar.
Foram
todos presos, banidos, exilados, expulsos do território brasileiro,
substituídos por sargentos graduados em stands de tiros e ordens unidas.
Hoje o
mundo CAPITALISTA usa os métodos criados por eles, os conceitos deles, para se
desenvolverem. Nós, não. Eram comunistas.
A
consequência? Segundo a UNESCO, a penúltima educação do mundo, em qualidade,
consequência da imposição das armas sobre o intelecto, 50 anos depois.
O que nos
deixou a ditadura? SBT, Globo, Sílvio Santos, José Sarney, Paulo Maluf... Em
substituição aos intelectuais cassados e banidos.
O pedido
de repeteco de ditadura militar se dá por oportunismo e saudosismo, de uns
poucos, e por consequência do que afirmo, na quase totalidade dos que nunca
ouviram falar em mais valia, fetiche da moeda, dialética, alienação ao
capital... E ousa acusar alguém de comunista, como crianças esperando cegonhas
com bebês ou papai noel, ele também comunista porque de roupa vermelha e
distribuindo brinquedos, sem cobrar.
19 – FIM DA CORRUPÇÃO? Impossível. A corrupção é inerente ao
capitalismo. Para agir livremente, o capital tem que servir-se de agentes
escusos como instrumentos dos seus próprios mecanismos. Há corrupção no mundo
todo, e o que se tem que cobrar é punição, o fim da impunidade, mas em todo o
espectro político e não só no governo, para reduzi-la, mesmo sabendo que não
acabaremos com ela.
Ah! Mas na
ditadura não havia corrupção! Verdade. Há duas maneiras de uma coisa não
existir: não existindo ou não se sabendo que existe. A censura nos meios de
comunicação cuidou “para que não
houvesse corrupção” na ditadura militar.
As
fortunas de Sarney, Maluf e outros, iniciadas na ditadura, são miragens de
comunistas.
20 – A SITUAÇÃO AGORA – estamos, hoje, no meio de uma luta aberta entre
dois modelos estritamente capitalistas: o neoliberal, capitaneado pelo PSDB,
parte do PMDB e de alguns partidos menores, satélites do PSDB, e a social
democracia, capitaneada pelo PT, parte do PMDB e alguns partidos menores,
satélites do PT.
A rigor,
estamos num bipartidarismo, o que exige uma reforma política urgente (o que faz
sentido, já que as leis que regulam a criação e fiscalizam os partidos são
praticamente as mesmas da ditadura militar, a ARENA – partido do “sim senhor,
meu chefe”; e o MDB, partido do “não concordo mas o senhor está certo”.
Até aí
nada demais, embate de correntes políticas, o que é normal e salutar em
qualquer democracia a qualquer tempo, só que há um componente novo: a mídia.
Por ser
concessão estatal, os meios de comunicação deveriam ser concedidos por licitação
e não por doação de quem estiver no poder.
Foi por
doação da ditadura militar que Sílvio Santos, garoto propaganda dos militares,
se tornou proprietário do SBT (primeiro era tevê S, depois SS, e agora SBT).
Por
doação, contrariando a constituição brasileira (todas as constituições
brasileiras, em todas as épocas), que veda a concessão de meios de comunicação
a empresas estrangeiras, a ditadura militar concedeu a Tevê Globo ao grupo
norte americano Time-Life (com o fim da ditadura, a família Marinho, então
acionariamente minoritária, comprou a parte da Time-Life na Globo).
Fernando
Henrique Cardoso concedeu mais de 700 (isso mesmo 700) emissoras de rádio e
tevê, em cidades pequenas, a políticos seus, para propaganda do tucanato, donde
se conclui que:
a)
A mídia brasileira está concentrada: seis (6)
famílias são proprietárias de 80% (oitenta por cento) das emissoras de rádios e
tevês no Brasil, o que faz com que os noticiários atendam aos interesses dessas
famílias, que subordinam os interesses políticos do povo aos seus (deles) interesses
econômicos imediatos;
b) Todas
as pequenas emissoras são repetidoras das grandes emissoras, seja por
limitações econômicas, seja por identidade política, já que concedidas por um
mesmo governo e com a mesma finalidade, de onde se deduz que estamos sob
censura econômica e ideológica.
Manipulando,
escamoteando, deturpando, omitindo, alardeando... Ora em conivência com a
situação, ora com a oposição, de acordo com a conveniência do momento, ferindo
a ética e o bom senso (o capital é impessoal, não tem isso), essa mídia faz uso
sistemático de alguns expedientes:
a) Cultiva
e incentiva a deturpação de conceitos. Por exemplo: FHC jamais diria que o
PT ou Lula são comunistas. Por ser
intelectual de projeção internacional, estaria desmoralizado, diante da falta
de conhecimento ou manipulação de conceitos. Então a mídia se torna porta voz
de porras loucas que não sabem o que estão dizendo, dando-lhes vez e voz, ou a
gente bem informada, que sabe o que deveria dizer, mas não diz, porque
regiamente remunerada;
b) Omite
contradições e mudanças de opiniões que só mostram não haver compromissos com
os interesses do povo, mas pessoais. Por exemplo: em 1999, quando FHC era
presidente e Serra o seu ministro da saúde, “importaram” 67 médicos cubanos,
com a mesma missão dos que hoje vêm chegando, sem alardes de que estava havendo
uma “invasão comunista”. Os compromissos são com os cofres;
c) Dão
aval para posturas no mínimo censuráveis: ao mesmo tempo em que o presidente do
STF vale-se de todos os meios, lícitos e ilícitos, para apurar escândalos no
governo, vale-se dos mesmos meios, para manter engavetados escândalos
semelhantes, do governo anterior;
d) Omitem
escândalos, como o do sistema ferroviário de São Paulo, ignorando-os, como se
não existissem ou nunca tivessem existido.
Ao
mesmo tempo que age assim, deliberadamente, a mídia desinforma ou presta
informações absolutamente inócuas para o desenvolvimento humano, seja como
indivíduo ou ser social, oferecendo programação alienada/alienante, como
concurso de dança de famosos, programas de escândalos conjugais, noticiário
sobre nulidades transformadas em nada no pedestal da fama, reality shows, vendas
de graças e milagres... Onde subliminarmente se introduz conceitos de
despolitização e acomodação social, seja pelo próprio âmbito da programação,
seja através de opiniões e “conselhos”, estrategicamente inseridos.
É
neste quadro que o Brasil decide se se quer “fascista ou comunista”, o que dá
vômitos em qualquer semialfabetizado.
É
com essa formação e essas informações que decide se quer democracia ou ditadura
militar.
É
com todo esse preparo que vai às urnas, para eleger o ladrão da vez, orientado
pela mídia, a quem pouco importa se é ladrão, desde que faça o jogo dela,
mídia, rolando dívidas imensas com o fisco, fazendo vistas grossas à sonegação
fiscal, subvencionando, na forma de gordos contingenciamentos do orçamento
público para publicidade...
Assim
e por isso o povo não fica sabendo que não há nenhuma ameaça comunista, que a
discussão é para decidir que modelo de capitalismo se quer; que o grupo mais
importante, no momento, aliado a golpistas de direita e usado ora para
demonstrações de vandalismo deliberado e taticamente organizado, ora como
ideologicamente consistente e pertinente, não passa de uma organização
anarquista internacional, com sede nos Estados Unidos, e que, via mundo
virtual, influi hoje no mundo todo, sendo, inclusive, um dos maiores
responsáveis pelos banhos de sangue no Egito e na Síria.
Esta
a situação brasileira, a imaturidade política plena e esplendorosa, parida no seio
de vinte e um anos de obscurantismo mental, quando generais substituíram intelectuais
e as decisões não eram tomadas em Brasília, mas em Washington.
E
tem gênios da raça querendo começar tudo de novo, talvez para prolongar a
mediocridade, substrato da miséria, por mais um século.
P.S. – antecipadamente peço desculpas por
possíveis erros nas citações. Não realizei consultas.
Francisco Costa
Rio, 27/08/2013