sábado, 31 de agosto de 2013

SÍRIA: O OCIDENTE RECUOU

Parece que de imediato está afastada a possibilidade de ataque à Síria, e muitos fatores contribuiram pra isso, entre os quais enumero:
1)      A opinião interna americana – além de estar cansada de enterrar filhos seus, mortos para defender corporações, empresas, há uma certa fobia norte americana em relação aos islamitas. Que sentido faz os EEUU derrubarem o presidente do único país árabe laico, com Constituição, ao invés de Alcorão, para colocar um islamita?
2)      A política interna da Síria – Assad, o presidente da Síria, goza da simpatia e da confiança da maior parte do povo, tanto que, segundo observadores internacionais, se houvesse eleições limpas hoje, ele seria reeleito com larga margem de votos, e não é por outro motivo que está acabando com os mercenários pagos pelos EEUU e Arábia Saudita;
3)      O poder militar da Síria – em virtude da longa amizade entre a Síria e a Rússia, pelo grau de confiabilidade, e a necessidade de proteção a si mesma, a Rússia armou o governo sírio até os dentes, e os americanos sabem que lá não encontrariam a molezinha que encontraram no Iraque, isolado, por conta das diatribes de Sadhan. Estão se preparando para reagir mesmo, e numa intensidade que os americanos só encontraram no Vietnan;
4)      A vulnerabilidade de Israel – embora os EEUU tenham feito com Israel o mesmo que os russos fizeram com os sírios, armando-o até os dentes, é histórica a inimizade de todos os islamitas aos judeus, e há pouco de fundamento religioso nisso: Israel multiplicou por seis o tamanho do próprio território, por anexação de terras dos países vizinhos; tem as forças armadas mais truculentas do mundo, fazendo dos policiais brasileiros, inocentes escoteiros, diante deles; fecha mananciais de água que abastecem os países vizinhos, deixando crianças e velhos com sede... Rigorosamente todos os países árabes têm mísseis, canhões e foguetes apontados para Israel. Seja para aproveitar a oportunidade, seja para vingar-se indiretamente dos EEUU, num conflito generalizado, certamente os árabes tentariam destruir Israel;
5)      O Irã – sabe que, depois do Iraque e do Afeganistão, tomada a Síria, seria ele a bola da vez. Aliar-se à Síria, para o Irã é questão vital para a própria sobrevivência. O grande risco do envolvimento do Irã, para o ocidente, é que além de ter um dos maiores exércitos do mundo, em número de combatentes (se parte do armamento que se encontra espalhado pelo mundo árabe se concentrar nas mãos iranianas, o Irã se torna invencível em guerras de curto e médio prazos), sessenta por cento do petróleo que vem do oriente médio para o ocidente passa no litoral do Irã. Uma guerra prolongada e generalizada poderia provocar escassez de combustível e matéria prima para a indústria petroquímica no ocidente, provocando estragos enormes na economia;
6)      Além disso, uma guerra generalizada traria o inconveniente da destruição de muitos poços de exploração e muitas refinarias de petróleo, principalmente na Arábia Saudita e no Qatar, alvos preferenciais, hoje, no mundo árabe, porque financiadores do terrorismo pró ocidente;
7)      Por  fim a Rússia, a velha Rússia, que quando afirmou que qualquer ataque à Síria seria o início da terceira guerra mundial não blefou. E por que essa posição radical? Aqui merece um detalhamentozinho:
a)      O território sírio é vital para as pretensões russas de vender gás para a Europa Ocidental, já que os dutos têm que obrigatoriamente passar pela Síria. Perdido o território sírio, fim das pretensões russas, o que significa a perda de trilhões de dólares no longo prazo;
b)      Há uma amizade histórica entre russos e sírios, baseada na confiabilidade e na sinceridade. Um abandono, agora, seria uma traição, vista assim pelos dois lados;
c)       Lentamente os EEUU estão derrubando os aliados russos: Líbia, Iraque, Afeganistão... Restam a Síria e o Irã, tanto como blindagem do território russo, como de mercados complementares e alianças militares. A Rússia não tem a menor dúvida de que, no momento em que estiver só, a OTAN a atacará. Manter a Síria e o Irã independentes do ocidente é vital para os russos.
Aqui o interesse do meu possível leitor em perguntar: porque o ocidente atacaria a Rússia?
Por vários motivos, históricos, econômicos e geográficos:
1)      Como a Europa foi o eixo inicial da civilização, o mapa mundi (planisfério) representa o planeta tendo a Europa como centro, mas não se esqueça de que a Terra á redonda. Fechando-se o planisfério... A Rússia é vizinha dos Estados Unidos, só um estreito os separam (o Alasca é território americano). Não é nem um pouco conveniente ter um vizinho poderoso e rival, de interesses econômicos paralelos;
2)      Os fatos históricos, na Rússia, acontecem de maneira rápida e radical, deixando a sociedade russa politicamente instável. Contrariando as previsões de Marx, a Rússia saltou direto do feudalismo para o socialismo, sem queimar a etapa capitalista (o que justifica os muitos desvios e deturpações teóricas e práticas do marxismo, lá), e o capitalismo, da mesma maneira, apareceu de maneira abrupta, não planejada, em período muito curto de tempo, sem transições, ao contrário do que vem acontecendo na China, o que dá a Rússia uma instabilidade social muito grande, com grande risco de retornar ao socialismo (em outros moldes, claro. A história não se repete), filme que os americanos já viram e não gostaram;
3)      Num primeiro momento, os russos, principalmente os jovens, acharam ótimo trocar o almoço e a janta pelos fast foods, pelos hambúrgueres da vida, mas já estão se dando conta de que nem todos tem dinheiro para fast foods... E nem para almoço e janta mais. Começam a aparecer as primeiras favelas e guetos, na mesma velocidade em que aparecem os arranha céus de empresas particulares, e se dão conta que na conta o dinheiro está se concentrando só de um lado, e a insatisfação está crescendo, com  a consciência cada vez maior de que fizeram merda. Como o socialismo privilegiou muito a educação, lá não há espaço para Faustões, Jornais Nacionais, Reality shows e pastores midiáticos como vaselinas no estupro da sociedade.
Acredito que essa análise, ainda que superficial, nos dá uma ideia do porque os cachorrinhos ocidentais voltarem para os seus canis.

Francisco Costa

Rio, 31/08/2013.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

SABOMBRINO E O BUMBO

Cansado de reclamar, divorciado já da santa paz, Sabombrino viu um vídeo de um líder religioso.
O ungido do senhor e de escândalos financeiros incitando o rebanho a redobrar esforços na guerra da salvação, falando no rádio e na televisão, inundando a net de textos e vídeos, colocando alto falantes nas igrejas, nas ruas, nas praças, no pé da orelha de cada ímpio, de cada herege, de cada idólatra, de cada instrumento do satanás... Em volúpia tanta que em ultimato: ou se converte ou enlouquece!
E sabombrino tomou uma decisão: comprou um bumbo.
Mal amanhecia, vinha a primeira porrada no couro, reproduzida em porradas outras mil, em ensurdecedor ribombar de final dos tempos, o dia todo.
Mal começava um culto, lá estava Sabombrino ribombando o bumbo na porta da igreja.
Terminava o culto, seguia os irmãos, sem parar de ribombar, e ribombando seguia até a casa de cada um.
Se alguém ligava o rádio, tome-lhe bumbo no salmo, no louvor, nas graças alcançadas.
E ribombando o bumbo seguia Sabombrino, nas praças, entre os pombos e os casais de namorados; nos modorrentos e burocráticos expedientes das repartições públicas; nas vitrines e leprosários... Onde houvesse um vivente provido de ouvidos.
E tome-lhe ribombadas nas orelhas dos incautos, estarrecidos a princípio, irritados, depois, em fúria santa no final.
E nada abalava Sabombrino na sua sanha de fabricar loucos enfurecidos.
Logo alguém gostou da idéia, e junto com o primeiro bumbo, ribombou o segundo. Depois outro, e outro, e mais outro... Milhões deles em ribombadas diuturnas e continuadas.
Ribombavam na net, nos telefones, nas vitrines e puteiros, em tudo que é canto e lugar: bum, bum, bum... E ninguém para pedir intervenção federal, ação da polícia, culto de descarrego, qualquer merda capaz de parar a sanha desumana daqueles milhões de braços socando baquetas nos bumbos.
Mas também, como fazer? Já havia bumbeiro nos quartéis, nos palácios, nas escolas e presídios, hospitais... Reduzindo a rotina de todos a só ouvir bumbos.
Passando por cima das desavenças por conta das diferenças doutrinárias, como a divisão dos dízimos, por exemplo, os 8.974.084.213 líderes religiosos de 7.339.014.321 igrejas de 2.173.422 denominações diferentes agendaram uma reunião com Sabombrino, para contornar a situação, já que ninguém mais andava, alienados de si mesmos, mas marchava no ritmo do bumbo, em alienante som único nos miolos.
E tomou a palavra o mais rico dos líderes:
- Quanto para parar esse maldito bumbo!
E Sabombrino, sem parar de bater:
- O meu bumbo não é maldito, o maldito sou eu. Se eu não o ribombar não os incomoda, e quem o ribomba sou eu.
- Sim, mas quanto?
- Não tem quanto, mas de que maneira – respondeu, Sabombrino.
- E qual é, pelo amor de Deus, irmão! – Os líderes já em desespero com o ribombeio intercalando palavras, dificultando o entendimento.
- Eu ribombo baixo e só perto de quem gosta de ouvir a sinfonia dos bumbos e vocês abrem a matraca baixo e só perto dos sensíveis à sinfonia das matracas.  
E assim a santa paz de Deus voltou a reinar entre os matracas da palavra e os ribombadores de bumbos.

Francisco Costa

Rio, 30/08/2013.

PREFIRA O PLANO NO STRESS, DA VIVO

Muito bom esse novo Plano da VIVO, o "no stress". Você clica em cima da foto do amigo, minimiza a tela e vai jogar paciência spider. Quando a partida termina você volta no face, para ver se a página já mudou ou é a anterior ainda.
Sendo, repete a operação, até a postagem do amigo chegar... Paciência, antes de você começar a morder a parede, tudo se resolve, aí o pc trava, a imagem da amiga congelada na tela, você já quase apaixonado...
E  você reinicia, e a microsoft resolve baixar vinte minutos de update. Você aguarda e recomeça, agora para procurar a postagem do amigo, que já desceu, e o sinal cai.

Volta, e aparece “resolvendo host”  e você fica imaginando o que é isso, talvez algum algoritmo encontrado em algum manuscrito do Mar Morto, lá no Oriente Médio, entre a hérnia de um inglês e as hemorróidas de um judeu, ou um fóssil pré cambriano recentemente empossado imortal pelos próximos meses, na Academia Brasileira de Letras, e cinco minutos depois o aviso muda: “conectando”, e mais cinco minutos, os meus cachorros são mais rápidos nisso, duas ou três lambidinhas e já estão conectados, e olha que é ruim de cair, conecta mesmo, nem água fria, e muda de novo, agora “aguardando facebook”, e começa a se dar conta que na ditadura militar era melhor, não precisava esperar tanto pela repressão, louco para o face voltar logo, já todo endividado por promessas, 3 velas para são Diocrácio da Criméia, 5 ave marias, para santa Delicocéia, um charuto para o Pai Arueira de Mangambá, o preto velho, e um litro de cachaça com farofa para o seu diabinho de estimação, certo de que o seu moldem está mal assombrado, com algum encosto, talvez daquela tia velha que morreu, aquela que você roubava moedas para comprar pão doce, e se lembra que amanhã é dia do cardiologista, e começa a entoar um salmo, certo de que ele mandará você marcar uma consulta com o legista. PQP!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?

Não há mais dúvidas de que foram usadas armas químicas na Síria. As fotos de centenas de cadáveres de civis, inclusive de mulheres e muitas crianças, sem ferimentos, são conclusivas.
Há um acordo internacional de proibição radical desse tipo de armamento, por desnatural e anti humano, e por, generalizando-se o uso, colocar em risco toda a humanidade.
Em casos assim é prevista uma ação conjunta de países, sob a iniciativa e orientação da ONU, para intervenção, com a finalidade de acabar com o conflito e punir os que usaram as aludidas armas.
Só que a história na Síria está complicada, como veremos, é há o antecedente do Iraque, quando os Estados Unidos, à revelia, da ONU invadiu esse país, por causa das armas químicas e atômicas estocadas, ao preço de milhares de vidas de civis, sem que nem uma arma química ou atômica fosse encontrada.
Foi só um pretexto para uma guerra de saneamento ideológico e garantia de petróleo na região.

Mas o que há de fato por trás disso?
Os planos de Obama, de invasão do Irã e da Síria são antigos. No dia 28 de janeiro deste ano, hackers interceptaram e-mails da empresa britânica Britam Defesa, e descobriram que Obama estava se preparando para as citadas invasões, o que mereceu resposta imediata de Moscou, que isso seria o início da III Guerra Mundial.
Mas, o mais importante é que esses e-mail deixaram bem claro a farsa de que estão se valendo os Estados Unidos e a União Européia, para iniciar o conflito.
Dois e-mails hackeados deixam as coisas bem claras:

1º) Email 1: Phil, Temos uma nova oferta. É sobre a Síria novamente. Catar propõe um negócio atraente e jurar que a idéia é aprovado por Washington. Nós vamos ter que entregar uma CW (arma química) para Homs (Síria), a origem soviética g-shell da Líbia semelhantes aos que Assad deveria ter. Eles querem implantar nosso pessoal ucranianos que deve falar russo e fazer um registro de vídeo. Francamente, eu não acho que é uma boa ideia, mas as quantias propostas são enormes. A sua opinião? Atenciosamente David
2º) E-mail 2: Phil, por favor, ver detalhes em anexo de medidas preparatórias sobre a questão iraniana. A participação de Britam na operação é confirmada pelos sauditas. (tradução do Google)

Vamos destrinchar, para entender:  no primeiro e-mail:  uma empresa de mercenários britânicos, com o aval dos governos britânico e norte-americano recrutariam russos, também mercenários, para lançar armas químicas na Síria (quimicamente semelhantes às produzidas pela Rússia e que estão na Líbia). No momento em que estivessem lançando, seria gravado em vídeo o lançamento, feito por russos. Quem pagaria pelo serviço? A Arábia Saudita, ou melhor, os americanos, através dos sauditas.
Investigações internacionais, provavelmente da ONU, concluiriam que foram os russos, aliados do governo sírio, que lançaram as bombas químicas.
No segundo e-mail a autorização para que a operação seja iniciada, com a participação da empresa britânica.
Por causa desses e-mails é que ontem,27/08, o Ministério das Relações Exteriores russo emitiiu nota afirmando: "As tentativas de ignorar o Conselho de Segurança, mais uma vez para criar desculpas infundadas artificiais para uma intervenção militar na região estão repletas de novo sofrimento na Síria e consequências catastróficas para outros países do Oriente Médio e Norte da África. "
O que mais irritou os russos foi que a ação do ataque químico já estava postada em vários sites, na internet, horas antes do fato acontecer, o que é a prova definitiva de que não foi coisa de sírios, nem do governo nem dos rebeldes, mas uma montagem.
Tanto o governo sírio quanto os rebeldes negam veementemente o uso de tais armas, acusando-se mutuamente.
Diante disso, ou já premeditadamente, o mais provável, Obama cancelou o encontro que teria hoje, 28/8, com os russos, para contornar a situação na Síria.
Os parlamentares britânicos, que se encontram em recesso, foram convocados às pressas para, ainda hoje, votarem a participação da Grã Bretanha na guerra.
Os Estados Unidos já mandaram um quarto vaso de guerra equipado com foguetes subsônicos, capazes de atingirem Damasco, a capital Síria.
Há uma frota britânica posicionada, e aviões franceses.
 Ontem diversos caças e aviões transporte de tropas, britânicos, se dirigiram ao Oriente Médio.
Segundo autoridades americanas, o ataque se dará antes da ONU ser ouvida, e o motivo é óbvio, não dar espaço para que chineses e russos se pronunciem.
Os presidentes da Síria e do Irã afirmaram categoricamente que se invadirem um dos dois países estarão “criando uma bola de fogo que incendiará o mundo árabe e se estenderá para cada capital ocidental”, entenda-se guerra convencional lá e terrorismo no mundo todo, já que sendo islamitas, os diversos grupos terroristas deverão se unir, pelo menos temporariamente.
Em vista disso, Putin deu uma segunda ordem às forças russas, que se reposicionassem, agora não mais para uma possível guerra na Síria, mas para uma guerra generalizada, global, a começar pela destruição da Arábia Saudita, fornecedor estratégico de combustível para o Ocidente.
A China ainda não se pronunciou, ou para servir de fiel  na balança ou para se aproveitar do desgaste militar entre russos e norte americanos e sair fortalecida, após o conflito.

Mas, afinal, o que há por trás disso, porque essa guerra na Síria?
Com a proximidade do fim da recessão, ou semi recessão, na União Européia, deverá haver um aumento muito grande na demanda por GLP (Gás liquefeito de petróleo).
A Rússia pretende estender os seus gasodutos até o coração da Europa, geograficamente falando, e que terão que obrigatoriamente passar pela Síria.
Como concorrente dos russos, as grandes companhias ocidentais, que também querem construir gasodutos partindo da Arábia Saudita e do Qatar, país pequenino mas nadando em petróleo.
Os sauditas e o governo de Qatar armaram os guerrilheiros sírios, para derrubarem o governo, que é alinhado com a Rússia, e instaurarem um governo pró ocidente, barrando as pretensões russas e deixando as grandes empresas de petróleo do ocidente ocuparem.
Este é o motivo, mais uma guerra por petróleo, mais inocentes morrendo (e as fotos, mostrando, são abundantes) porque a humanidade está subordinada ao dinheiro.
É o capitalismo.

Francisco Costa
Rio, 28/08/2013.


Na foto, cadáveres de crianças envenenadas (repare que não há marcas de tiros).

DEVANEIOS CRÍTICOS EM CHUVOSA MANHÃ DE TERÇA FEIRA

desaconselhável a quem não gosta de ler e proibido a quem não gosta de pensar )

1 – PREÂMBULO
                         Um posicionamento político partidário prévio faz-se necessário, para que o que penso não seja lançado à conta de defensor desta ou daquela posição partidária, como defesa deste ou daquele partido.
                         Não sou petista, nunca fui petista, e não me sinto representado por nenhum dos partidos que compõe a base de governo, em coligações e alianças com o PT, o que me deixa muito a vontade para me posicionar.

2 – UM SÓ MODELO
                         Após a queda do Muro de Berlin e a fragmentação da União Soviética, com a adoção do sistema capitalista, não só pela Rússia, mas por todos os países do Leste Europeu, o mundo passou a ter modelo único de sistema econômico, o capitalismo.
                         Hegemônico, totalitário, esse sistema eliminou possíveis dissidências ou possibilidades de modelos alternativos, agindo economicamente, através dos seus próprios mecanismos: embargos, sobretaxações e boicotes, ou pela força das armas.

3 – CUBA E CORÉIA
                         Pela inexpressividade bélica, econômica e populacional, nenhum desses dois países pode e deve ser citado como modelo ou aliado em potencial, numa revolução, uma vez que mostram anomalias econômicas, por inadaptação ao mercado internacional e impossibilidade de sobrevivência sem a ajuda externa.
                         Cuba cometeu o erro da monocultura (canavieira) e da centralização de exportações para mercado único, no caso, o russo, perdendo a oportunidade de industrialização e diversificação de mercados.
                         Para agravar, um cruel, covarde e desumano boicote econômico, liderado pelos EEUU, acatado e posto em prática também pelos países da União Europeia, em verdadeira tentativa de genocídio, impediu qualquer alternativa aos cubanos, já que a Rússia, em dificuldades econômicas, reduziu em muito a ajuda a esse povo.
                         A Coréia do Norte é hoje uma cruel e desumana ditadura de esquerda, com um poder dinástico, passando de pai para filho, sem condições sequer de alimentar o seu povo.

4 – CHINA
                         A esperança de alternativa, para os que ideologicamente convergem para a esquerda, mostra-se cada vez mais próxima do capitalismo, que só não acontece mais aceleradamente por causa do conservadorismo do campesinato.
                         Mas na medida em que continuar aumentando a urbanização, exigência do próprio modelo capitalista, de concentrar a produção e o consumo, e a mecanização do campo, o Partido Comunista Chinês não terá mais como segurar a pressão.
                         A China é hoje um modelo híbrido, politicamente centralizado, mas economicamente cada vez mais liberalizado.

5 – ISLÃ
                         Difícil uma análise crítica dos povos do Oriente Médio, já que rejeitam Smith e Marx, buscando um modelo alternativo, apoiado em textos religiosos.
                         Não há sequer como discutir a viabilidade disso, uma vez que a vigilância e a repressão capitalista, via forças armadas dos EEUU e de seu satélite, Israel, frustram, pela força bruta, qualquer tentativa nesse sentido.

6 – O CAPITALISMO ATUAL
                         Hegemônico, totalitário, avassalador, com pequenas variantes de modelos de produção e distribuição, podemos afirmar que todo o planeta, hoje, adotou e está subjugado a esse sistema de produção e consumo, capitaneado pelos Estados Unidos, potência imperial,
quer pelo poder econômico, quer por suas consequências culturais (do modelo econômico): política, filosofia, arte e religião.

7 – BRASIL
                         País de hábitos extremamente conservadores, primeiro por causa da enorme influência do catolicismo, herança portuguesa, e agora pelo protestantismo, influência anglo-saxônica, onde incluo os Estados Unidos, por causa da sua colonização, ainda mais conservador, o Brasil começou a se mostrar optante por um modelo em meados da primeira metade do século anterior, com Getúlio Vargas, que buscou a economia de mercado, com industrialização e um Estado forte, mais que regulador, proprietário.
                         Com o suicídio de Vargas, abriu-se um vazio de poder imenso, o que não é de se estranhar, uma vez que a característica dos povos conservadores é o apoio incontinente a Messias e Salvadores da Pátria.
                         Veio uma década de prosperidade econômica e arejamento de ideias, com o governo Juscelino, quase que antecipando historicamente a posição social democrata, com crescente tendência de opção pela via socialista, não só do Brasil como de toda a América Latina, no dizer dos americanos do norte, quintal dos Estados Unidos.
                         Veio o golpe.

8 – A DITADURA MILITAR
                         Antes de comentar o aspecto econômico, é preciso desmistificar o conceito de revolução, aplicado não só no Brasil como em todos os países da América Latina.
                         Revoluções são movimentos de mudança do modelo social e econômico.
                         Quando a Rússia mudou o regime de feudal semicapitalista para socialista, fez uma revolução. Quando Cuba mudou o modelo de incipiente capitalismo de colônia pelo socialismo, fez uma revolução. Quando os povos do Oriente Médio tentam fugir do capitalismo e do colonialismo para implantar Repúblicas Teocráticas (Islâmicas) estão tentando revoluções.
                         No Brasil, como de resto em toda a A. L., havia revoluções em curso, pelo menos no âmbito político e econômico, e os movimentos militares vieram para sufocar, impedindo essas revoluções, o que os caracteriza como contra revolucionários, antirrevolucionários, para a manutenção do antigo, conservadores, portanto.
                         O que houve foi golpe de estado, com oficiais superiores treinados e financiados pelos Estados Unidos, lá, traindo o Presidente da República, seu comandante em chefe, para atendimento dos reclamos e interesses dos Estados Unidos (são abundantes os documentos, da época, mostrando isso, não é opinião minha, tanto que a frota norte-americana estava fundeada nas imediações da Baia de Guanabara, para intervir, caso o povo brasileiro reagisse. É preciso resgatar a verdade, nossos heróis são de papel).
                         Consolidado o Golpe Militar, nos atrelamos imediatamente à Matriz, e são abundantes as citações de políticos civis e militares, da época, nesse sentido: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, por exemplo.
                         A economia caracterizou-se por forte crescimento agrícola, com a implantação de culturas complementares às dos Estados Unidos e dos países da Europa (ainda não havia a União Europeia), aproveitando o nosso clima, tropical, e a oposição de estações do ano, o que evita escassez de entressafras, pelo comércio internacional.
                         Começou aí a transformação do país em grande latifúndio produtor de cana, para alimentar automóveis, e soja, para alimentar suínos e galinhas, na América do Norte e na Europa.
                         A industrialização perdeu o ritmo, já que nos apoiamos no consumo do supérfluo produzido lá, restando-nos o papel de fornecedores de mão de obra barata e capital (nos endividamos até a medula com os organismos internacionais, pagando os maiores juros do planeta, a ponto de haver uma excrescência chamada “over night”, uma operação que pagava juros bancários por hora. O gringo vinha aqui, depositava o dinheiro às sete horas da noite e, no dia seguinte, às sete horas da manhã, sacava as doze horas de juros).
                        
9 – O FIM DA DITADURA
                         Percebendo já uma crescente liberalização econômica e social no mundo, a começar pela Europa, com o fim do Franquismo e do Salazarismo, por exemplo, e o início da fragmentação do Império Russo, os Estados Unidos tiveram que se adequar, e a manutenção de tiranias, como estavam postas em toda a América Latina, em praticamente toda a África e parte da Ásia, perderam o apoio político, econômico e militar norte americanos, e o generais, sem alternativas, tornaram-se “democratas”, abrindo mão do poder.

10 – GOVERNO SARNEY
                         Com o fim da ditadura militar, apareceu Tancredo Neves que, embora muito conservador, político do interior, ligado aos latifúndios, extremamente católico, por ter tido ligações com Getúlio Vargas e João Goulart (foi ministro nos dois governos), se não era uma alternativa de esquerda, o era como a volta do patriotismo, da emancipação à dependência aos “irmãos do norte”, como os militares se referiam aos norte-americanos.
                         Morto Tancredo, assumiu Sarney, que fora presidente do partido de sustentação política dos militares, criado artificialmente, a ARENA, e governador biônico do Maranhão (colocado no cargo por nomeação, sem eleições), acontecendo o que não poderia ser diferente: um generalzão paisano na presidência, embora tenha suportado forte oposição, democraticamente, sem recorrer à repressão.
                         Sem o apoio e a orientação dos Estados Unidos, veio o caos: filas para tudo, inflação estratosférica, falta de gêneros, tabelamentos, racionamentos, planos econômicos bombásticos, um atrás do outro, infrutíferos... Só mostrando que sem a administração norte-americana aquele modelo não andaria.

11 – FIM DO MODELO
                         Esgotado o modelo ditatorial militar de atrelamento cego à matriz, e sem alternativas à esquerda, só restou o capitalismo, dividido em duas vertentes:
1)      Social democracia – busca um estado forte, centralizador, com participação direta nos meios de produção e enfoque principal na justiça social, através de cotas em escolas, distribuição de alimentos, redistribuição de renda e terra e fortalecimento do mercado interno, sem perder de vista que o fim é a produção de capital, o capitalismo;
2)      Neoliberalismo – busca o chamado estado mínimo, deixando para a iniciativa privada toda a produção, inclusive de serviços, como saúde e educação, entendendo que o próprio mercado produz as suas leis e as regulariza, de acordo com as próprias necessidades. A assistência estatal é substituída pela competição de mercado, em tese, propiciador de chances iguais para todos. É o capitalismo radical, levado às últimas consequências.

12 – GOVERNO COLLOR
                         Livre do engessamento econômico imposto pelos militares e continuado por um militar sem farda (Sarney), as forças conservadoras, capitaneadas pela maior rede de televisão do país “fabricaram” um messias salvador da pátria, para implantar o neoliberalismo da forma mais radical, e alçaram Collor do anonimato, fazendo-o presidente da república.
                         Inexperiente e deslumbrado com o poder, o moço cometeu um erro primário: mexeu no sagrado dinheirinho da classe dominante.
                         Acreditando que o fim da inflação viria com a redução drástica do meio circulante (grana girando no mercado), promoveu o que ficou conhecido como “confisco da poupança”, e começou a cair logo no primeiro dia de governo.
                         As próprias forças que o criaram, a começar pela Globo, o destronaram.
                         Convém salientar que as acusações que pesaram sobre ele, em periculosidade e volume de dinheiro, é coisa de aprendiz de batedor de carteiras, diante do que veio depois, com a institucionalização da roubalheira em todo o espectro político, a começar pelas privatizações de FHC, cuja grana sumiu.

13 – GOVERNO ITAMAR FRANCO
                         Intervalo neoliberal, com tentativa de nos definirmos pelo modelo social democrata.
                         Criou o Plano Real, de Rúben Ricúpero, atribuindo-o a Fernando Henrique Cardoso, na esperança de que, eleito, continuasse com o modelo social democrata.

13 – GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
                         Esperança de social democracia, pelo discurso de campanha, por ser continuidade de Itamar (seria. Depois o próprio Itamar o desqualificou, chamando-o de traidor) e principalmente por causa da nomenclatura da sua sigla partidária.
                         Mostrou-se um neoliberal radical, privatizando todo o meio produtivo estatal, a preço vil, no mercado internacional, encerrando pesquisas nas universidades e empresas brasileiras subsidiadas, abrindo mão da formação de tecnologia nacional, terceirizando ou entregando à iniciativa privada a saúde e a educação, transferindo orçamento contingenciado das ações sociais para o meio financeiro.
                         Em seu governo registraram-se os maiores juros reais da história e um dos menores valores do salário mínimo, em dólares.
                         A produção brasileira, ao invés de ser controlada, passou a ser fiscalizada a distância (?), pela criação de agências reguladoras.

14 – GOVERNO LULA
                         Caracterizou-se como um governo tipicamente social democrata: deu aumentos reais no salário mínimo (100 dólares, na sua posse, 350 dólares, hoje), acelerou a reforma agrária (não no ritmo e da forma esperados), distribuiu bolsas alimentação, criou cotas para negros, índios e alunos oriundos de escolas públicas nas universidades, criou mecanismos de financiamento para estudantes e subsidiou a construção civil, com projetos de construções populares, fortaleceu o mercado interno, diversificou o mercado externo, mas sem, em nenhum momento, perder de vista o capital, o que o descaracteriza completamente como socialista.

15 – GOVERNO DILMA
                         Continuação do governo Lula, segundo os mesmos princípios e iniciativas.

16 – ALTERNATIVAS HOJE
                         De imediato devem ser afastadas quaisquer possibilidades de saídas extremas, seja à esquerda ou à direita.
                         Não há favorecimento nas conjunturas interna e externa.
                         Vejamos:
a)      Para uma saída pela extrema esquerda – em termos internacionais não há um único país capaz de se alinhar com o Brasil, para troca de experiências táticas e estratégicas, e alianças econômicas, além do capitalismo ser hegemônico, capaz de impedir qualquer movimento nesse sentido, seja valendo-se da diplomacia e da chantagem econômica, como das armas. Em termos internos, não temos uma esquerda forte, organizada, com direção centralizada, mas toda pulverizada em diversos partidos pequenos, todos lentamente assimilando a social democracia;
b)      Para uma saída pela extrema direita – em termos internacionais todas as tentativas nesse sentido foram fracassadas porque não contaram com o apoio das grandes potências. Pelo contrário, tiveram forte oposição.
         E porque isso? As ditaduras militares tendem a ser centralizadoras, administrando com mãos de ferro, o que é incompatível com o neoliberalismo e a social democracia, que exigem governos desorganizados e politicamente fracos, para a independência do capital, para que ele siga a sua própria lógica.
         Repare que nesses sistemas, como é impossível um planejamento de médio e longo prazos, porque quem vai determinar a realidade não serão as forças produtivas, mas o sistema financeiro, os governos transformam-se em gerenciadores de crises.
         Por incompatíveis, bem estar social, democracia plena e realização completa do capital, os governos se vêm no papel de mediadores de conflitos, ora em benefício do capital, ora do trabalho e dos trabalhadores.

17 – OS DISCURSOS DOS DOIDOS
a)      PSDB e FHC são fascistas – não, não são. Não se tem, quer de maneira oficial, nos estatutos do partido, ou oficiosa, através de pronunciamentos dos seus próceres, nada que aponte para isso. Apesar do termo Social Democracia na sigla do partido, pelos dois mandatos presidenciais de um dos seus  fundadores(FHC) e, ainda hoje, a figura mais influente entre os tucanos (o símbolo do partido é um tucano), das iniciativas administrativas tomadas por governadores e prefeitos desse partido, e dos discursos parlamentares tucanos, o partido é neoliberal, com todas as características intrínsecas às intenções e atos do neoliberalismo;
b)      PT e Lula são comunistas – não, não são. E aqui a acusação é risível, tamanha a falta de fundamentação. Para quem tenha, seja por simpatia ou militância, ou por dever de ofício (universitários das áreas de Ciências Sociais, por exemplo), conhecimento do que são a filosofia e a economia marxistas, a associação do PT e Lula ao marxismo é como a associação de protestantes e adoração de imagens, incompatíveis e inconcebíveis.
         É comunista, ou pelo menos tem a pretensão de ser, um governo que:
b.1)  libera de tributação o sistema financeiro (bancos e congêneres) brasileiro, o de maior rentabilidade e lucros, no planeta?
b.2) promove uma reforma agrária lenta e só a partir de terras da União ou, quando a partir de fazendas invadidas pelo MST, por improdutivas, pagando indenização  no valor de mercado, como se fossem produtivas? (quando são produtivas a justiça as devolvem aos donos, não raro usando a força policial)
b.3) que permite assassinatos em série de lideranças campesinas e índios, promovidas por latifundiários, sem tomar nenhuma iniciativa para coibir?
b.4) que “planta” hidrelétricas, a custa do extermínio de milhares de espécies animais e vegetais, e da cultura de povos milenares (índios)?
b.5) que tem nos Estados Unidos, e pelos Estados Unidos, um parceiro estratégico e alinhado?
b.6) que tendo os seus produtos e serviços boicotados no mercado internacional, via sobretaxação ou por concessão de subsídios às produções locais, não realiza nenhuma retaliação, seja no mercado interno ou externo?
b.7) que não realiza quaisquer perseguições ou pelo menos críticas a religiões, inclusive tendo dezenas de lideranças religiosas não só em alianças e coligações, como em seus próprios quadros?
         Mas olhemos por outro lado, agora de fora para dentro:
b.8) se houvesse qualquer indício de dissidência do capitalismo, no PT, Barak Obama seria tão amistoso com o governo brasileiro? Ou daria o tratamento dado a Chávez e, agora, a Evo Morales?
b.9) considerando a importância econômica do Brasil (6ª potência econômica do planeta. Quando FHC entregou a Lula, era a 16ª) e o terceiro produtor mundial de alimentos, portanto de alta estratégia para o capitalismo internacional, se estivéssemos tomando rumos à esquerda, os Estados Unidos e a União Europeia estariam tão amistosos conosco?
         O PT é, hoje, resultado da prevalência de uma força política interna (do PT), a Articulação, à qual Lula sempre pertenceu, desde a sua origem, no sindicalismo de resultados (portanto não revolucionário, mas social democrata), e que expurgou todos os socialistas e comunistas do partido, que criaram outros partidos (o PSTU, por exemplo).
         Quem chama Lula e o PT de comunistas age de absoluta má fé, acreditando que o povo é idiota, ou é absolutamente burro, palrando o que ouviu, sem saber o que nem porque.
         O marxismo é uma doutrina fechada, que abrange economia e filosofia, dialeticamente, de alta complexidade teórica, e não se aprende em postagens na net nem em passeatas.
         Comunismo, no Brasil, virou sinônimo de não gosto: pedófilo é comunista; o religioso de denominação diferente da nossa é comunista; dar cestas básicas  é coisa de comunista (Barak Obama que o diga, já que ele - governo dos Estados Unidos, dá 48 milhões de cestas básicas, mensalmente, aos miseráveis do paraíso do capital); ser contra quebra da ordem democrática, com imposição da força das armas é ser comunista; ser contra a continuidade de mortes de miseráveis nos rincões do país, porque as faculdades de medicina têm mensalidades de 5 a 10 salários mínimos, só ao alcance dos filhos da classe dominante, que, formados, não querem ir para o interior, e a favor de se importar médicos é coisa de comunista... 
         E são os comunistas que usam os não esclarecidos, eufemismo para desinformados.
18 – PORQUE ESSA SITUAÇÃO DE TIROTEIO NO ESCURO? – Anote esses nomes: Gilberto Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer, Burle Marx, Glauber Rocha, Vinícius de Moraes... (e eu poderia citar 500 nomes outros, de mesmo quilate). Eram esses homens que conduziam a política da educação, da arte e da cultura brasileiras, e veio o golpe militar.
                         Foram todos presos, banidos, exilados, expulsos do território brasileiro, substituídos por sargentos graduados em stands de tiros e ordens unidas.
                         Hoje o mundo CAPITALISTA usa os métodos criados por eles, os conceitos deles, para se desenvolverem. Nós, não. Eram comunistas.
                         A consequência? Segundo a UNESCO, a penúltima educação do mundo, em qualidade, consequência da imposição das armas sobre o intelecto, 50 anos depois.
                         O que nos deixou a ditadura? SBT, Globo, Sílvio Santos, José Sarney, Paulo Maluf... Em substituição aos intelectuais cassados e banidos.
                         O pedido de repeteco de ditadura militar se dá por oportunismo e saudosismo, de uns poucos, e por consequência do que afirmo, na quase totalidade dos que nunca ouviram falar em mais valia, fetiche da moeda, dialética, alienação ao capital... E ousa acusar alguém de comunista, como crianças esperando cegonhas com bebês ou papai noel, ele também comunista porque de roupa vermelha e distribuindo brinquedos, sem cobrar.
19 – FIM DA CORRUPÇÃO? Impossível. A corrupção é inerente ao capitalismo. Para agir livremente, o capital tem que servir-se de agentes escusos como instrumentos dos seus próprios mecanismos. Há corrupção no mundo todo, e o que se tem que cobrar é punição, o fim da impunidade, mas em todo o espectro político e não só no governo, para reduzi-la, mesmo sabendo que não acabaremos com ela.
                         Ah! Mas na ditadura não havia corrupção! Verdade. Há duas maneiras de uma coisa não existir: não existindo ou não se sabendo que existe. A censura nos meios de comunicação cuidou  “para que não houvesse corrupção” na ditadura militar.
                         As fortunas de Sarney, Maluf e outros, iniciadas na ditadura, são miragens de comunistas.
20 – A SITUAÇÃO AGORA – estamos, hoje, no meio de uma luta aberta entre dois modelos estritamente capitalistas: o neoliberal, capitaneado pelo PSDB, parte do PMDB e de alguns partidos menores, satélites do PSDB, e a social democracia, capitaneada pelo PT, parte do PMDB e alguns partidos menores, satélites do PT.
                         A rigor, estamos num bipartidarismo, o que exige uma reforma política urgente (o que faz sentido, já que as leis que regulam a criação e fiscalizam os partidos são praticamente as mesmas da ditadura militar, a ARENA – partido do “sim senhor, meu chefe”; e o MDB, partido do “não concordo mas o senhor está certo”.
                         Até aí nada demais, embate de correntes políticas, o que é normal e salutar em qualquer democracia a qualquer tempo, só que há um componente novo: a mídia.
                         Por ser concessão estatal, os meios de comunicação deveriam ser concedidos por licitação e não por doação de quem estiver no poder.
                         Foi por doação da ditadura militar que Sílvio Santos, garoto propaganda dos militares, se tornou proprietário do SBT (primeiro era tevê S, depois SS, e agora SBT).
                         Por doação, contrariando a constituição brasileira (todas as constituições brasileiras, em todas as épocas), que veda a concessão de meios de comunicação a empresas estrangeiras, a ditadura militar concedeu a Tevê Globo ao grupo norte americano Time-Life (com o fim da ditadura, a família Marinho, então acionariamente minoritária, comprou a parte da Time-Life na Globo).
                         Fernando Henrique Cardoso concedeu mais de 700 (isso mesmo 700) emissoras de rádio e tevê, em cidades pequenas, a políticos seus, para propaganda do tucanato, donde se conclui que:
a)      A mídia brasileira está concentrada: seis (6) famílias são proprietárias de 80% (oitenta por cento) das emissoras de rádios e tevês no Brasil, o que faz com que os noticiários atendam aos interesses dessas famílias, que subordinam os interesses políticos do povo aos seus (deles) interesses econômicos imediatos;
b)      Todas as pequenas emissoras são repetidoras das grandes emissoras, seja por limitações econômicas, seja por identidade política, já que concedidas por um mesmo governo e com a mesma finalidade, de onde se deduz que estamos sob censura econômica e ideológica.
                         Manipulando, escamoteando, deturpando, omitindo, alardeando... Ora em conivência com a situação, ora com a oposição, de acordo com a conveniência do momento, ferindo a ética e o bom senso (o capital é impessoal, não tem isso), essa mídia faz uso sistemático de alguns expedientes:
a)      Cultiva e incentiva a deturpação de conceitos. Por exemplo: FHC jamais diria que o PT  ou Lula são comunistas. Por ser intelectual de projeção internacional, estaria desmoralizado, diante da falta de conhecimento ou manipulação de conceitos. Então a mídia se torna porta voz de porras loucas que não sabem o que estão dizendo, dando-lhes vez e voz, ou a gente bem informada, que sabe o que deveria dizer, mas não diz, porque regiamente remunerada;
b)      Omite contradições e mudanças de opiniões que só mostram não haver compromissos com os interesses do povo, mas pessoais. Por exemplo: em 1999, quando FHC era presidente e Serra o seu ministro da saúde, “importaram” 67 médicos cubanos, com a mesma missão dos que hoje vêm chegando, sem alardes de que estava havendo uma “invasão comunista”. Os compromissos são com os cofres;
c)       Dão aval para posturas no mínimo censuráveis: ao mesmo tempo em que o presidente do STF vale-se de todos os meios, lícitos e ilícitos, para apurar escândalos no governo, vale-se dos mesmos meios, para manter engavetados escândalos semelhantes, do governo anterior;
d)      Omitem escândalos, como o do sistema ferroviário de São Paulo, ignorando-os, como se não existissem ou nunca tivessem existido.
                         Ao mesmo tempo que age assim, deliberadamente, a mídia desinforma ou presta informações absolutamente inócuas para o desenvolvimento humano, seja como indivíduo ou ser social, oferecendo programação alienada/alienante, como concurso de dança de famosos, programas de escândalos conjugais, noticiário sobre nulidades transformadas em nada no pedestal da fama, reality shows, vendas de graças e milagres... Onde subliminarmente se introduz conceitos de despolitização e acomodação social, seja pelo próprio âmbito da programação, seja através de opiniões e “conselhos”, estrategicamente inseridos.
                         É neste quadro que o Brasil decide se se quer “fascista ou comunista”, o que dá vômitos em qualquer semialfabetizado.
                         É com essa formação e essas informações que decide se quer democracia ou ditadura militar.
                         É com todo esse preparo que vai às urnas, para eleger o ladrão da vez, orientado pela mídia, a quem pouco importa se é ladrão, desde que faça o jogo dela, mídia, rolando dívidas imensas com o fisco, fazendo vistas grossas à sonegação fiscal, subvencionando, na forma de gordos contingenciamentos do orçamento público para publicidade...
                         Assim e por isso o povo não fica sabendo que não há nenhuma ameaça comunista, que a discussão é para decidir que modelo de capitalismo se quer; que o grupo mais importante, no momento, aliado a golpistas de direita e usado ora para demonstrações de vandalismo deliberado e taticamente organizado, ora como ideologicamente consistente e pertinente, não passa de uma organização anarquista internacional, com sede nos Estados Unidos, e que, via mundo virtual, influi hoje no mundo todo, sendo, inclusive, um dos maiores responsáveis pelos banhos de sangue no Egito e na Síria.
                         Esta a situação brasileira, a imaturidade política plena e esplendorosa, parida no seio de vinte e um anos de obscurantismo mental, quando generais substituíram intelectuais e as decisões não eram tomadas em Brasília, mas em Washington.
                         E tem gênios da raça querendo começar tudo de novo, talvez para prolongar a mediocridade, substrato da miséria, por mais um século.

P.S. – antecipadamente peço desculpas por possíveis erros nas citações. Não realizei consultas.

Francisco Costa

Rio, 27/08/2013